Diego & Frida

Jean-Marie Gustave Le Clézio, Prémio Nobel da Literatura em 2008, assina uma narrativa biográfica em que glorifica «o que há de mais extraordinário ao longo da existência caótica do casal Diego/Frida» (p.188). O autor revela não só um conhecimento dos percursos de vida e da obra dos pintores, como um estudo aprofundado das questões político-sociais ocorridas durante a primeira metade do século XX.

Sobre Diego Rivera, Le Clézio dá a conhecer o período em que o pintor viaja pela Europa e de que forma isso o influencia no «sentido que pretende dar à pintura mural, expressão de uma tomada de posse da arte pelo povo» (p.123).

Em Frida Kahlo, não é tanto a ideologia política a responsável pela sua obra, mas sim «esse imenso sofrimento que se confunde com a vida» (p.42). Também o amor que sente por Diego, esse génio a quem chama de elefante, está exposto na sua pintura.

Le Clézio descreve todos os acontecimentos marcantes na vida de Diego e Frida de forma objectiva e sem rodeios. O antes e o depois do casamento; as viagens pelos Estados Unidos da América; o regresso à sua terra natal; a separação quando, no Verão de 1934 Frida «precipita-se para a sua solidão deixando Diego» (p.131).

O autor descreve estes anos como uma história de amor entre a personalidade impetuosa de Diego e a juventude indestrutível de Frida, analisando a pintura de cada um. A clareza e a obectividade do seu discurso são de tal forma singulares que dispensam quaisquer reproduções das obras dos artistas.

Le Clézio demonstra nesta obra a sua arte em ser um escritor ensaísta romancista. Por um lado, revela um gosto pelo conhecimento da história dos indivíduos e dos povos, em particular do passado índio. Por outro, concentra na sua escrita o espírito revolucionário, a dor e a paixão do casal Rivera-Kahlo.

Paula Pinho